- Correio Rondoniense
Entidades divulgam nota e cobram esclarecimento da morte do professor indígena Ari Uru Eu Wau Wau

A nota foi divulgada nesta terça-feira (09) e assinada por várias pessoas que fazem parte de entidades ligadas às causas indígenas em Rondônia. O objetivo é cobrar das autoridades esclarecimento da morte do professor indígena Ari Uru Eu Wau Wau, que o correu em 18 de abril no distrito de Tarilândia, zona rural do município de Jaru.
Na época a Polícia Militar (PM) foi chamada para atender um suposto acidente de trânsito em que o professor teria morrido após cair de moto. No entanto, após o início das investigações ficou evidente que a morte poderia ser homicídio e quem o praticou tentou simular um acidente de trânsito.
A nota deixa clara a insatisfação de membros do Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia (GPEA) do Departamento de Educação Intercultural (DEINTER) da Universidade Federal de Rondônia e diferentes entidades de educação e direitos humanos, quanto ao silêncio das autoridades sobre o assassinato de Ari Uru Eu Wau Wau.
Leia a integra da nota;
Nota ao MPF, Polícia Federa e a FUNAI
Ji-Paraná, 9 de junho de 2020.
Nós, docentes, pesquisadores e pesquisadoras, indígenas e não indígenas, com vinculação ao Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia (GPEA) do Departamento de Educação Intercultural (DEINTER) da Universidade Federal de Rondônia e diferentes entidades de educação e direitos humanos, manifestamos nossa insatisfação com o silêncio das autoridades sobre o assassinato do professor Ari Uru Eu Wau Wau.
Às vésperas do chamado “dia do índio”, 18 de abril de 2020, tomamos conhecimento da morte de Ari. Seu corpo foi localizado nas proximidades da Terra Indígena Uru Eu Wau Wau, distrito de Tarilândia, município de Jaru, Rondônia.
Através desta Nota pública, manifestamos nossa indignação diante da omissão histórica do poder público nas ações de proteção dos direitos constitucionais dos povos indígenas, principalmente, no que diz respeito aos conflitos gerados pelo processo de colonização na Amazônia com maior intensidade nos anos de 1980 documentadas pelo cineasta Adrian Cowell e que continuam até os dias atuais. Diante disso, reivindicamos providências quanto à apuração do crime do professor indígena Ari que está, intrinsicamente, relacionado à questão aqui exposta.
É sabido que a violência contra os povos indígenas aumentou, significativamente, na gestão do governo Bolsonaro a partir da política de sucateamento da Funai e Ibama e da fiscalização fragilizada. De acordo com a CPT, só em 2019, foram registrados 244 conflitos em territórios indígenas, tais como: pistolagem, invasão de Terras Indígenas com ameaças, tentativas de expulsão de famílias, destruição de casas e roças, pertences extraviados, impedimento do direito de ir e vir. Em Rondônia e Mato Grosso podemos citar os casos de conflitos nas TIs Uru Eu Wau Wau, Karipuna, Igarapé Lourdes, Igarapé Laje e Zoró.
Diante disso, reconhecemos o importante papel dos agentes públicos de fiscalização e justiça em uma sociedade democrática, por isso, solicitamos ao Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) notícias quanto ao andamento das investigações. Não é justo dar lugar à impunidade e ao silêncio neste caso que vitimou há mais de um mês o professor indígena Ari, uma vez que há outros casos de assassinatos nesta etnia sem informações.
Assim, o sentimento que mobiliza esta escrita é o da solidariedade entre os povos e da defesa do direito à verdade sobre o assassinato de Ari Uru Eu Wau Wau. É preciso saber o que aconteceu e quem foi o responsável por essa violência. Nunca é demais reiterar que a Constituição Federal estabeleceu que os Povos Indígenas têm direito ao usufruto de seus territórios, de viver em paz, sem a ameaças e tensões, sobretudo, direito à proteção, à vida, a saúde e a justiça.
Assinam este documento:
Josélia Gomes Neves – GPEA/DEINTER/UNIR
Pure Uru Eu Wau Wau - GPEA/DEINTER/UNIR
Cristovão Teixeira Abrantes – GPEA/DEINTER/UNIR
Quesler Fagundes Camargos – GPEA/DEINTER/UNIR
Edineia Aparecida Isidoro - GPEA/LALIC/DEINTER/UNIR
Betty Mindlin – Antropóloga
Nara Luísa Reis de Andrade - DEA/UNIR
Luciana Castro de Paula - GPEA/DEINTER/UNIR
Vanubia Sampaio dos Santos - GPEA/DEINTER/UNIR
Carma Maria Martini - DEINTER/GPEPE/UNIR
Mary Gonçalves Fonseca - CLII /UNIFAP
Maria Ivonete Barbosa Tamboril - GAEPPE/UNIR
Gicele Sucupira - DEINTER/UNIR
Adnilson A. Silva - GENTEH/UNIR
Juliano José de Araujo – Grupo de Pesquisa e Extensão em Audiovisual/DEJOR/UNIR
Marli Lúcia Tonatto Zibetti – GAEPPE/UNIR
Ricardo Gilson da Costa Silva – GTGA/UNIR
Juracy Machado Pacífico EDUCA/UNIR
Fernanda Kopanakis - Associação Mapinguari
José Kennedy Lopes Silva – Hibiscus/UNIR
Betânia Maria Zarzuela Alves de Avelar – Instituto INDIA Amazônia/ GEPEA Audre Lorde/UNIR
Béra Samuel Pessoa – Grupo Cultural Quilomboclada
Inaê Level – Professora da Rede Estadual – MT
Débora Caroline Viana Almeida – Instituto INDIA Amazônia/ GEPEA Audre Lorde/UNIR
Ana Maria Alves de Avelar – Instituto INDIA AMAZÔNIA
José Zarzuela Serrat - Instituto INDIA AMAZÔNIA
Autor: Da Redação